terça-feira, 28 de agosto de 2007

O Marketing educacional.

O que é a educação? O que é ser educado? Como é que se educa? Quem é que oferece educação?

A educação pode ser uma poção mágica ou um veneno, com os ingredientes correctos e nas doses certas, pode-nos tornar tão fortes como o asterix, caso contrario pode envenenar a nossa essência humana.
Hoje em dia e na realidade portuguesa, é obrigatório frequentar uma escola até ao 12º Ano, mas o abandono é uma variável não controlável, ou seja, tudo continua em aberto, é certo que muitos não tem de facto espírito de aprendizagem mas no meio existe também muito desencantamento. Porque será?
Por razões económicas? Insegurança? Má formação profissional e pedagógica dos professores? Devido a um entupimento de conceitos? Por uma aprendizagem desenhada para massas em que uma criança, adolescente ou um jovem adulto é um número?
Todas estas razões são viáveis; numa utopia não tão impossível, todos teriam fácil acesso ao ensino com apoios económicos governamentais reais, credíveis e justos e esse ensino necessitaria de ser algo mais pessoal, pois acredito, por exemplo, que um professor primário que acompanhe uma turma do 1º ao 4º Ano contribui para uma melhor aprendizagem, formação pessoal e educacional das crianças assim como do próprio. Esta é naturalmente uma situação difícil de se concretizar, perante a dança de colocações da própria classe, recuando mais no problema o facto de haver um excesso de professores, muitos deles sem capacidades para a tal, e retrocedendo ainda mais a falta de antevisão de uma situação como esta com a abertura de tantos cursos com vertente de ensino e de fácil acesso pelas médias que disponibilizaram, penso que por momentos houve uma euforia colectiva de que todos poderiam ser professores quando não sabem ensinar, ou porque não foram ensinados a transmitir conhecimentos; porque para isso é preciso ter dom.
Porém a educação não passa só pela escola, passa também pelas famílias e as famílias são hoje em dia um pequeno grupo económico, que trabalha para ter e para dar, em que não existe aquele carrossel de sentimentos que existia, onde um beijo podia rapidamente passar a ser um grito, onde para ter era necessário provar ser digno de receber, onde conversas ou discussões ocasionais transbordavam de valores, onde as personalidades de pais e filhos cresciam e se interligavam, sendo o local perfeito para a derradeira experiência: aprender a aceitar os outros.
Mas a educação também se desenvolve nas conversas com amigos e hoje em dia assim como nas famílias, há uma profunda crise de valores, poucos sabem o que dizem, menos ainda os que percebem, ninguém sabe ao certo onde quer chegar, ou quando parar, mas todos querem mais, querem viver tudo como se fossemos eternos e não reparam que não vivem nada, que não aprendem nada, que não pensam, que não respeitam, que não se sabem comportar nas mais diversas situações, porque não reparam nas linhas que separam o comportamento familiar, do núcleo de amigos ou do profissional.
Temos carência de cultura, de espaços, que poderiam perfeitamente ser num contexto de aulas, onde se promovesse a conversa, o debate de ideias, onde se espantassem complexos, sítios onde a cultura fosse ter com os alunos.
Teríamos muito provavelmente, além de pessoas ansiosas por aprender, excelentes futuros profissionais mas melhor que isso grandes seres humanos.

Apontado o problema, sintetizo tudo isto com item de estudo de uma cadeira: “A sociedade culpa, nos dias que correm, o marketing pelos seus males”!
Normal! Penso eu. Os últimos quarenta anos da história global assistimos, no mundo ocidental, a uma evolução tecnológica vertiginosa, criámos um novo estilo de vida “o civilizadamente material” com todos os gadjects a que temos direito e que a tecnologia nos proporcionou o que me recorda aqueles anúncios de semi pin-up girls semi donas de casa de volta de um enlatado ou daquelas inovadoras máquinas que lavavam a roupa e que lhes facilitaria em muito a rotina da vida.
O duo ouro negro nasce, o petróleo torna-se o bem o consumismo o meio e continua ainda numa fase de crescimento, pois bem mas algum dia terá que chegar à fase da maturidade, e entenda-se maturidade como a extraordinária capacidade de aprendermos com os erros.
Maturidade como todos podem constatar, não significa que nos tornemos “melhores” ou “pessoas melhores” pois todos desenvolvemos feitios e personalidades muito distintas nesta nossa multiplicidade sociológica e apesar de já ser uma característica muito humana «o ser individual» não significa que sejamos mais humanos, porque isso acarreta também o desenvolver de uma consciência colectiva, com preocupações sociais, politicas, ecológicas, económicas entre outros e a uma escala planetária.
O marketing e a publicidade entraram de pés juntos na sociedade e tudo começa a valer para vender mais e mais e mais; despertamos necessidades ocas, vontades selvágicas, oferecemos facilidades de acesso, mas que posso eu dizer, este é um trabalho, uma profissão, uma função e não a ponho em causa, porque ao fim de contas é o volume de vendas através de um campanha de comunicação que se mede o sucesso destes profissionais e só compra quem quer, porque se pode ou não já é relativo; o que eu questiono é a sabedoria social por detrás de uma campanha e se não deveria existir um espaço onde o marketing e a publicidade pudessem agir de uma forma responsável e a favor das sociedades.
Maturidade revela-se então em sabedoria e o saber atribui-nos responsabilidades.
Para quando então, uma geração de profissionais da comunicação que para além de saberem vender, saibam incutir valores e que promovam o conhecimento?
Este seria um marketing maduro, repleto de sabedoria e cheio de valores a partilhar. Acredito estarmos no caminho certo, como por exemplo o facto de hoje em dia ser inadmissível publicitar um produto com alguém a fumar, triste será pensar que esta situação acontece porque existem normas anti-tabágicas ou porque estamos a ser tendencialmente apologistas de um estilo de vida saudável.
O que eu falo é de uma vertente, uma corrente, um grupo de pessoas que pratique um marketing activista, seguindo naturalmente tendências, alguém que de facto ponha o dedo na ferida, falar para a sociedade e para todas as suas organizações, alertando ou consciencializando. Falando de humano para humanos.Sei que os clientes das agências, muito provavelmente, não estarão interessados em incutir valores, orientações ou educar através dos seus produtos, que desesperadamente querem vender e assim ganhar o seu lugar nos 50% mais ricos do planeta (aqui no mundo ocidental), mas acredito que a publicidade e o marketing têm de se redimir do tal “mal” que já fizeram á sociedade e tenho como convicção que são estes meios, estas novas disciplinas as únicas a poderem colmatar a falha de cultura que está patente nas sociedades ocidentais em geral e assumir de uma vez o seu lugar na educação, educando as massas com a mesma facilidade com que as influencia e educando, se possível, também os seus clientes e as suas empresas.

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